HAIRSPRAY – EM BUSCA DA FAMA – O maior
desafio dos alunos da Escola Municipal Grécia, Vila da Penha, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil, é a de manter o público sentado na poltrona. E foi difícil. O ritmo
frenético e envolvente, o roteiro inteligente e as interpretações memoráveis da
peça garantiram diversão e reflexão em medidas iguais. A direção na medida de
Patrícia Alves mantém a atmosfera que suspende o fôlego.
O
espetáculo conta a história do racismo contra os negros americanos - hoje o
“politicamente correto” impõe o termo afro-americano - os preconceitos contra a
obesidade e em última instância em relação a tudo o que diverge do Poder
estabelecido contextualizam o musical em que um todos os participantes imprimem
excelência ao elenco.
Conta
o texto do espetáculo, na Baltimore dos anos 60 reina a discriminação feroz.
Paralelamente aos problemas sociais, uma juventude ávida por igualdade sonha em
participar do show mais popular da televisão americana: The Corny Collins Show (Angelo
Antonio) em que adolescentes dançam, cantam e se enamoram ao som de rock,
baladas e muito laquê nos cabelos.
O
sonho de todo adolescente de Baltimore é fazer parte do show, mas para isso é
necessário enfrentar a maldade de uma vingativa ex-miss Baltimore, produtora do
programa, que vive do passado glamoroso e mãe da ambiciosa e superficial, da
atriz cinturinha de pilão, inimiga mortal da doce e gordinha.
Tracy
Turnblad (Suelen Louise em espetacular performance) é dona de uma pureza sem
igual, é rechonchuda, libertária, sonhadora, ama seus pais, e se prontifica a
promover manifestações pela integração racial, a começar pela inclusão do Dia
do Negro no calendário permanente do show, ou melhor, que brancos e negros
dancem juntos eliminando de vez o Dia do Negro.
Ao
abrirem as inscrições para a nova dançarina do show, ninguém menos do que Tracy
(Suelen) se apresenta na esperança de fazer parte do show e arrebatar o coração
de Link larkin (Diego Sampaio), namorada da entojada. Ainda que não fosse a melhor ou a mais charmosa, sua alegria de viver,
seu desprendimento e solidariedade ao próximo seria suficiente para torná-la
uma vencedora.
Cheio
de energia, Hairspray é uma comédia-musical que funciona tanto no humor
presente nos diálogos, como no humor visual que os personagens fizeram com tanta
sutileza. A parte musical, como disse, é fantástica, sem pirotecnia alguma,
lembrando os musicais hollywoodianos mais antigos.
Dona
de uma voz privilegiada, a atriz Tracy (Suelen) tem uma osmose com a personagem
tal sua entrega, seu domínio vocal, a interpretação sincera encontram a química
perfeita com atores veteranos com Christopher Walken (Iago Alves), pai da moça,
dono de uma loja de mágicas e apaixonado por Edna, sua esposa interpretada por
Karine Rodrigues, esta um capítulo a parte.
Apoiando
incondicionalmente a filha (Karine), muitas vezes parece uma psicanalista tal a
dose de auto estima que inocula em mãe e filha (Suelen). A obesidade de uma a
impede de sair de casa e a da outra é quase que uma mola propulsora para vencer
desafios.
Além
de tudo, a produção carrega uma forte mensagem social, passada sem nenhum tipo
de moralismo. Pelo contrário, a mensagem é transmitida em meio a piadas. O
título Hairspray significa laquê, usado pela geração de 60 para construir o
penteado da moda.
Os
números musicais, quase que ininterruptos, não diminuem a contundência e a
seriedade do tema e em suas letras as denúncias aos preconceitos sejam quanto a
raça ou o aspecto físico são expostas de modo ao mesmo tempo objetivo e
poético.
O
musical do Núcleo de Artes Grécia em nada deixa a dever ao filme original de
1988, dirigido agora por Patrícia Alves, que por sinal aparece no início e no
final das apresentações para os agradecimentos gerais.
Os
textos originais de Verna von Tussle, a produtora loira, branca e implacável
traduzem a mentalidade racista sem concessões, e o público inicia uma torcida
pela igualdade, por um final feliz para os casais multiétnicos e pelo
implacável castigo à uma injusta hegemonia branca.
Contagiante,
a trilha sonora de Hair Spray envolve o filme numa atmosfera de anos 60 que tem
tudo para agradar tanto aos jovens da época quanto aos de hoje. Os alunos do
NAG confirmam seus talentos para musicais e são heróis românticos na medida
certa.
No
musical, Tracy Turnblad (Suelen Louise), uma adolescente gordinha de Baltimore,
tem o sonho de aparecer no "The Corny Collins Show", programa de
dança sensação entre os jovens, sucesso na tevê local.
Karine
Rodrigues é merecedora de uma consideração a parte. Esteve muito bem no papel
de Edna Turnblad do texto original, o protótipo da mãe amorosa que ama filha e
marido mais do que a si mesma. Vítima de sua inibição por ser obesa, Edna não
sai de casa, a menos que a situação o exija, ou seja, algo vital para sua
adorada filha.
Provando
ter talento para dançar, Tracy Turnblad (Suelen), ganha uma vaga para ser dançarina fixa do
programa "The Corny Collins Show",, mesmo contra a vontade da gerente
da emissora, que
tem como interesse principal promover a carreira de sua filha, a entojada.
Ao
mesmo tempo em que brilha no programa, Tracy (Suelen) se envolve na luta contra
a segregação racial, defendendo que brancos e negros possam aparecer juntos,
pela primeira vez, em um programa de tevê. O único espaço fornecido aos negros
na televisão, até então, era o chamado “Negro Day”, espécie de “The Corny
Collins Show” exclusivo para eles.
Hairspray – Em Busca da Fama já começa de forma maravilhosa, com Tracy (Suelen)
cantando, ao acordar, uma deliciosa canção, uma das melhores do musical, em uma
verdadeira declaração de amor à cidade em que vive. Um começo arrebatador,
envolvente, com a capacidade de mandar para o espaço o mau humor de qualquer
pessoa.
E o
bom ritmo se mantém. As sequências musicais, em sua totalidade, funcionam muito
bem, até porque as canções são ótimas. A vontade, ao sair do auditório do núcleo,
com um inevitável sorriso estampado no rosto, é cantarolar as melodias ouvidas
durante o musical.
A
qualidade incontestável deste musical não deve ser ignorada pela CRE daquela
região. Os professores e alunos da Escola Municipal Grécia que fazem parte do
elenco deste grande musical, estão merecendo receber elogios de seus
superiores. Estamos torcendo para que isso aconteça.
Aproveito
para homenagear a Direção Musical da Professora Joselinda Cândida Alves Campos, que nos fez voltar no tempo com canções belíssimas. Citarei o nome das músicas das quais adorei: “Good Morning Baltimore”, a deliciosa
canção que abre o musical cantada por Suelen, “I Can Hear The Bells”, também
cantado pela protagonista, e
“I Know Where I’ve Been”,
cantada no momento mais emocionante.
Está
de parabéns também a Coreógrafa Claudia Bruno, responsável por reconstruir a
década de 60, maquiagem, com o brilhante trabalho realizado para engordar
Karine Rodrigues, que interpreta a mãe obesa de Tracy, (Suelen) e figurino, que
acredito ser, depois das canções, não esqueceremos desta apresentação de Hairspray
tão cedo.
Todo
o elenco está maravilhoso. As interpretações de todos os envolvidos superam as expectativas
pois os atores deram vida aos personagens. Valeu. Todos vocês tem futuro se
quiserem continuar na profissão de atores e atrizes.
Christopher
Walken (Iago Alves) também tem seus momentos ao interpretar o marido de Karine
e, consequentemente, o pai de Tracy (Suelen). E é justamente Suelen Louise, a garota
que interpreta Tracy, que também brilha, e dá um show de interpretação no
musical.
E
são esses jovens da geração laquê mostrados no filme que demonstram a alienação
da juventude da época, distante dos problemas sociais. Infelizmente, essa
questão do preconceito, mais de 40 anos depois, ainda não foi totalmente
superada.
As
professoras Patrícia Alves (Direção), Joselinda Cândida Alves Campos (Direção
Musical) e Claudia Bruno (Coreografias) estão de parabéns pela realização de
mais este belíssimo espetáculo.
Entre
as produções realizadas por estas professoras no Núcleo de Artes Grécia,
Hairspray se junta ao hall das melhores, ocupando um lugar ao lado de Zodíaco. Conseguiu,
enfim, produzir um verdadeiro musical de “gente grande”.
Os alunos do NAG produzem
uma história que agradou a quem gosta de musicais, mas agradou também quem não
é fã do gênero. Ao mesmo tempo em que tem os ontológicos números musicais,
apresenta uma dramaturgia amarrada, cheia de conflitos e com personagens ricos
em seus conflitos.
As belíssimas canções têm a
sua versão brasileira assinada pelas professoras responsáveis, que venceram
plenamente o destino assustador de passar para o português as letras originais
em inglês.
Não menos difícil, mas
também plenamente vencido foi o desafio de adaptar as músicas compostas para
grandes orquestras internacionais para a realidade dos alunos brasileira, que
essa direção musical de muita competência da Professora Joselinda dispõe.
A professora Joselinda colocou
os alunos sobre o palco e dirige musicalmente a peça de forma a apresentar uma
produção que, dentro das possibilidades técnicas, atinge ganhos por nada dever
às produções maiores do mesmo espetáculo a nível profissional.
Os encerramentos dos dois
atos marcam o coroamento do espetáculo, dos professores e também da própria
escola, resultado de um intenso trabalho que, então, serve para o deleite do
público. Parabéns a todos, mais uma vez.
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