quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Musical HairSpray em Busca da Fama consagra alunos do NAG

HAIRSPRAY – EM BUSCA DA FAMA – O maior desafio dos alunos da Escola Municipal Grécia, Vila da Penha, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, é a de manter o público sentado na poltrona. E foi difícil. O ritmo frenético e envolvente, o roteiro inteligente e as interpretações memoráveis da peça garantiram diversão e reflexão em medidas iguais. A direção na medida de Patrícia Alves mantém a atmosfera que suspende o fôlego.
O espetáculo conta a história do racismo contra os negros americanos - hoje o “politicamente correto” impõe o termo afro-americano - os preconceitos contra a obesidade e em última instância em relação a tudo o que diverge do Poder estabelecido contextualizam o musical em que um todos os participantes imprimem excelência ao elenco. 
Conta o texto do espetáculo, na Baltimore dos anos 60 reina a discriminação feroz. Paralelamente aos problemas sociais, uma juventude ávida por igualdade sonha em participar do show mais popular da televisão americana: The Corny Collins Show (Angelo Antonio) em que adolescentes dançam, cantam e se enamoram ao som de rock, baladas e muito laquê nos cabelos.  
O sonho de todo adolescente de Baltimore é fazer parte do show, mas para isso é necessário enfrentar a maldade de uma vingativa ex-miss Baltimore, produtora do programa, que vive do passado glamoroso e mãe da ambiciosa e superficial, da atriz cinturinha de pilão, inimiga mortal da doce e gordinha. 
Tracy Turnblad (Suelen Louise em espetacular performance) é dona de uma pureza sem igual, é rechonchuda, libertária, sonhadora, ama seus pais, e se prontifica a promover manifestações pela integração racial, a começar pela inclusão do Dia do Negro no calendário permanente do show, ou melhor, que brancos e negros dancem juntos eliminando de vez o Dia do Negro. 
Ao abrirem as inscrições para a nova dançarina do show, ninguém menos do que Tracy (Suelen) se apresenta na esperança de fazer parte do show e arrebatar o coração de Link larkin (Diego Sampaio), namorada da entojada. Ainda que não fosse a melhor ou a mais charmosa, sua alegria de viver, seu desprendimento e solidariedade ao próximo seria suficiente para torná-la uma vencedora. 
Cheio de energia, Hairspray é uma comédia-musical que funciona tanto no humor presente nos diálogos, como no humor visual que os personagens fizeram com tanta sutileza. A parte musical, como disse, é fantástica, sem pirotecnia alguma, lembrando os musicais hollywoodianos mais antigos. 
Dona de uma voz privilegiada, a atriz Tracy (Suelen) tem uma osmose com a personagem tal sua entrega, seu domínio vocal, a interpretação sincera encontram a química perfeita com atores veteranos com Christopher Walken (Iago Alves), pai da moça, dono de uma loja de mágicas e apaixonado por Edna, sua esposa interpretada por Karine Rodrigues, esta um capítulo a parte. 
Apoiando incondicionalmente a filha (Karine), muitas vezes parece uma psicanalista tal a dose de auto estima que inocula em mãe e filha (Suelen). A obesidade de uma a impede de sair de casa e a da outra é quase que uma mola propulsora para vencer desafios. 
Além de tudo, a produção carrega uma forte mensagem social, passada sem nenhum tipo de moralismo. Pelo contrário, a mensagem é transmitida em meio a piadas. O título Hairspray significa laquê, usado pela geração de 60 para construir o penteado da moda. 
Os números musicais, quase que ininterruptos, não diminuem a contundência e a seriedade do tema e em suas letras as denúncias aos preconceitos sejam quanto a raça ou o aspecto físico são expostas de modo ao mesmo tempo objetivo e poético. 
O musical do Núcleo de Artes Grécia em nada deixa a dever ao filme original de 1988, dirigido agora por Patrícia Alves, que por sinal aparece no início e no final das apresentações para os agradecimentos gerais.
Os textos originais de Verna von Tussle, a produtora loira, branca e implacável traduzem a mentalidade racista sem concessões, e o público inicia uma torcida pela igualdade, por um final feliz para os casais multiétnicos e pelo implacável castigo à uma injusta hegemonia branca. 
Contagiante, a trilha sonora de Hair Spray envolve o filme numa atmosfera de anos 60 que tem tudo para agradar tanto aos jovens da época quanto aos de hoje. Os alunos do NAG confirmam seus talentos para musicais e são heróis românticos na medida certa. 
No musical, Tracy Turnblad (Suelen Louise), uma adolescente gordinha de Baltimore, tem o sonho de aparecer no "The Corny Collins Show", programa de dança sensação entre os jovens, sucesso na tevê local. 
Karine Rodrigues é merecedora de uma consideração a parte. Esteve muito bem no papel de Edna Turnblad do texto original, o protótipo da mãe amorosa que ama filha e marido mais do que a si mesma. Vítima de sua inibição por ser obesa, Edna não sai de casa, a menos que a situação o exija, ou seja, algo vital para sua adorada filha. 
Provando ter talento para dançar, Tracy Turnblad (Suelen),  ganha uma vaga para ser dançarina fixa do programa "The Corny Collins Show",, mesmo contra a vontade da gerente da emissora, que tem como interesse principal promover a carreira de sua filha, a entojada. 
Ao mesmo tempo em que brilha no programa, Tracy (Suelen) se envolve na luta contra a segregação racial, defendendo que brancos e negros possam aparecer juntos, pela primeira vez, em um programa de tevê. O único espaço fornecido aos negros na televisão, até então, era o chamado “Negro Day”, espécie de “The Corny Collins Show” exclusivo para eles.
HairsprayEm Busca da Fama já começa de forma maravilhosa, com Tracy (Suelen) cantando, ao acordar, uma deliciosa canção, uma das melhores do musical, em uma verdadeira declaração de amor à cidade em que vive. Um começo arrebatador, envolvente, com a capacidade de mandar para o espaço o mau humor de qualquer pessoa. 
E o bom ritmo se mantém. As sequências musicais, em sua totalidade, funcionam muito bem, até porque as canções são ótimas. A vontade, ao sair do auditório do núcleo, com um inevitável sorriso estampado no rosto, é cantarolar as melodias ouvidas durante o musical. 
A qualidade incontestável deste musical não deve ser ignorada pela CRE daquela região. Os professores e alunos da Escola Municipal Grécia que fazem parte do elenco deste grande musical, estão merecendo receber elogios de seus superiores. Estamos torcendo para que isso aconteça.
Aproveito para homenagear a Direção Musical da Professora Joselinda Cândida Alves Campos, que nos fez voltar no tempo com canções belíssimas. Citarei o nome das músicas das quais adorei: “Good Morning Baltimore”, a deliciosa canção que abre o musical cantada por Suelen, “I Can Hear The Bells”, também cantado pela protagonista, e
“I Know Where I’ve Been”, cantada no momento mais emocionante. 
Está de parabéns também a Coreógrafa Claudia Bruno, responsável por reconstruir a década de 60, maquiagem, com o brilhante trabalho realizado para engordar Karine Rodrigues, que interpreta a mãe obesa de Tracy, (Suelen) e figurino, que acredito ser, depois das canções, não esqueceremos desta apresentação de Hairspray tão cedo. 
Todo o elenco está maravilhoso. As interpretações de todos os envolvidos superam as expectativas pois os atores deram vida aos personagens. Valeu. Todos vocês tem futuro se quiserem continuar na profissão de atores e atrizes.  
Christopher Walken (Iago Alves) também tem seus momentos ao interpretar o marido de Karine e, consequentemente, o pai de Tracy (Suelen). E é justamente Suelen Louise, a garota que interpreta Tracy, que também brilha, e dá um show de interpretação no musical.
E são esses jovens da geração laquê mostrados no filme que demonstram a alienação da juventude da época, distante dos problemas sociais. Infelizmente, essa questão do preconceito, mais de 40 anos depois, ainda não foi totalmente superada. 
As professoras Patrícia Alves (Direção), Joselinda Cândida Alves Campos (Direção Musical) e Claudia Bruno (Coreografias) estão de parabéns pela realização de mais este belíssimo espetáculo.
Entre as produções realizadas por estas professoras no Núcleo de Artes Grécia, Hairspray se junta ao hall das melhores, ocupando um lugar ao lado de Zodíaco. Conseguiu, enfim, produzir um verdadeiro musical de “gente grande”. 
Os alunos do NAG produzem uma história que agradou a quem gosta de musicais, mas agradou também quem não é fã do gênero. Ao mesmo tempo em que tem os ontológicos números musicais, apresenta uma dramaturgia amarrada, cheia de conflitos e com personagens ricos em seus conflitos. 
As belíssimas canções têm a sua versão brasileira assinada pelas professoras responsáveis, que venceram plenamente o destino assustador de passar para o português as letras originais em inglês. 
Não menos difícil, mas também plenamente vencido foi o desafio de adaptar as músicas compostas para grandes orquestras internacionais para a realidade dos alunos brasileira, que essa direção musical de muita competência da Professora Joselinda dispõe. 
A professora Joselinda colocou os alunos sobre o palco e dirige musicalmente a peça de forma a apresentar uma produção que, dentro das possibilidades técnicas, atinge ganhos por nada dever às produções maiores do mesmo espetáculo a nível profissional. 
Os encerramentos dos dois atos marcam o coroamento do espetáculo, dos professores e também da própria escola, resultado de um intenso trabalho que, então, serve para o deleite do público. Parabéns a todos, mais uma vez. 

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