Unidas por profunda amizade mulheres
da Cidade de Deus, lideradas por Maria Teresinha Justos de Jesus, presidente da
ONG OSAMI- Obra Social de Apoio ao Menor e ao Idoso desafiam o ódio, a
violência e a fome através dos quatro padrões de Iniciativas de Mudança,
(Honestidade, Pureza, Altruísmo e Amor) para construir a paz no Brasil.
Ao lado de tratados e protocolos
oficiais, há um modo silencioso de agir, de pessoas que empenham avida para
edificar sutilmente, e a partir da base, aquelas redes de amizade, solidariedade
e convivência – ou seja, uma cultura de paz e de esperança – que por si só
conseguem garantir o domínio de acordos de alto nível.
São mulheres comprometidas em construir
concretamente esperança no seu pacificado bairro, através da opção educativa
das novas gerações. Terezinha é católica, 75 anos, nasceu em Poços de Caldas,
MG, mãe de quatro filhos e tem quatro netos.
A
História de Teresinha
Além de seus filhos é “mãe” de mais de
100 crianças e jovens, num total de 500 famílias, amparadas pela OSAMI, onde buscam
uma nova vida depois do abandono ou da violência. Tudo começou em 16 de Julho
de 1986, com os primeiros 10 meninos, sem ajuda do governo, mas através do trabalho
voluntário.
“Sempre há esperança quando se
procura avaliar e sentir o sofrimento do outro. Apesar das dificuldades,
encontrei pessoas capazes de construir pontes de compreensão e, com pequenos
gestos de amizade, conseguimos dar alívio a tantas tristezas que há nesta
Cidade de Deus”, declara Teresinha.
Em 1999 surgia então o projeto da
OSAMI Mulheres Criadoras de Paz que funciona dentro e fora da Cidade de Deus.
Ele é formado por mulheres, moradores e líderes comunitários, a partir de 18
anos e periodicamente a ONG oferece aulas e capacitação, para que todos possam
trabalhar dentro de suas comunidades. O objetivo do grupo é trazer a cultura de
paz onde ela se faz necessária.
O projeto veio a partir de uma conferência
que Teresinha assistiu em Caux, nos Alpes Suíço e passou a ser multiplicadora
deste trabalho no Brasil. E o que é a cultura de paz? É o respeito pelas
pessoas, sobretudo no que elas têm de diferentes. É poder estudar e trabalhar,
é o direito de sonhar e correr atrás do seu sonho.
Estão entre as atribuições da OSAMI
Mulheres Criadoras de Paz participar das atividades de formação cidadã,
dialogar e colaborar na organização dos jovens de sua comunidade e atentar para
quais são as necessidades dos jovens.
Criadoras de Paz, um programa de Iniciativas
de Mudança, é uma rede de trabalho composta por mulheres, que nasceu da
convicção de uma política da Tanzânia, Anna Abdallah Msekwa, que viu na abordagem
básica de IM uma forma de animar mulheres comuns para assim ser parte da
construção da paz na comunidade.
Lançada em 1991, tem reunido
mulheres de todo o mundo em conferências e agora também através de encontros
conhecidos como ‘Círculos de Criadoras de Paz’.
Aplicando Iniciativas de Mudança em sua
vida, a líder comunitária sabe que o perdão e a reconciliação são as palavras
mais doces de Deus e as mais salutares para a alma. Em 2009, depois de20 anos
de trabalho, Teresinha ganhou nove máquinas novas e uma máquina de lavar, que
foram doadas pelo Comitê de funcionários do Banco do Brasil foi fruto de sua
participação desde 1989, na Ação Cidadania contra a Miséria, contra a Fome e
pela Vida.
Teresinha tinha decidido abrir uma oficina
de costura, para gerar renda para as pessoas que trabalham nela, já que o
desemprego é um dos maiores problemas do local até hoje. A oficina é montada numa
das salas da associação de moradores.
Diante da necessidade das mulheres
de se profissionalizar e gerar renda a OSAMI oferece Curso de Corte e Costura.
“Todo o nosso material, como tecido, aviamento e etc. nós pedimos em fabricas desativadas,
oficinas e lojas. As pessoas nos doam sucatas,
inclusive de maquinas, que nós consertamos e utilizamos”, disse
Teresinha.
Atualmente a OSAMI produz bolsas, com
malotes doados pelo Banco do Brasil, que são bordadas, pintadas e vendidas em
feiras do Brasil e do Exterior. Todo o produto das vendas é repartido entre as
costureiras. “Acreditamos na amizade construída lá atrás para que a violência na
Cidade de Deus também acabasse. Agradecemos porque com os quatro padrão aprendeu
a amar mais a vida”, acrescenta Teresinha.
Quando as costureiras de Teresinha se
apresentam em qualquer parte do mundo, diante de plateias de até 1.200pessoas,
provocam coisas extraordinárias. Recentemente, numa feira realizada no Rio Grande
do Sul, no final do evento, ainda descalços, sentados no chão, responderam às
perguntas sobre a pacificação na Cidade de Deus e causaram grande impacto nos
presentes. Teresinha acrescenta: “Quando você transmite o valor tão precioso da
vida, como Idem, todas as pessoas que estão ao seu redor são contagiadas”.
E a presidente da OSAMI continua
alembrar: “Um dia, uma menina, que tinha perdido dois irmãos vítimas da violência
que era a Cidade de Deus, me perguntou como eu conseguia juntar tantas pessoas,
de diferentes situações e se não tinha medo?”
E ela respondeu: “De todos os lados
existem pessoas que merecem que conversemos que cultivemos amizade; somente
assim poderemos vencer todas as formas do mal que estão entristecendo, a
infância, a esperança de um futuro, o desejo de viver”.
“Queremos testemunhar a amizade e a busca
pela paz”. Com sua experiência em trabalhos sociais Teresinha vem experimentando
mudar este mundo, na Cidade de Deus e em todo lugar por onde passa. “Somos mães
e educadoras preocupadas com o futuro de nossos filhos e netos. Estamos aqui
consolidando a necessidade de paz. Com fé e esperança conseguiremos”,
acrescentou.
A Cidade de Deus é um bairro desmembrado
de Jacarepaguá oriundo de um conjunto habitacional, situado na Zona Oeste da
cidade do Rio de Janeiro. Foi construído em 1960 pelo governo do antigo Estado
da Guanabara, como parte da política de remoção de favelas de outras áreas da
cidade.
Com uma população em torno de 38 mil
habitantes, a Cidade de Deus apresenta indicadores sociais entre os mais críticos
do Rio de Janeiro, embora situado na vizinhança de bairros nobres da cidade,
como Freguesia e Barra da Tijuca.
Os logradouros do bairro têm nomes de
personalidades, localidades e fatos da Bíblia Sagrada. Em 2002, o sucesso do filme
Cidade de Deus colocou o bairro intensamente nos veículos de comunicação, reforçando
o estigma de comunidade violenta e perigosa e favorecendo uma onda de
preconceito e discriminação.
“Em nosso trabalho de promover a paz
nunca jogamos pedras ou destratamos alguém, principalmente os que estavam fora
da lei. Entendemos que eles não pediram para serem assim.” Encerrou Teresinha.
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